sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

dúvida: como postar vídeos?

Pessoal, passei o feriado baixando programas e tentando encontrar meios de conseguir postar os vídeos das minhas intervenções. Eles estão mto pesados (com uns 800 MB cada) e não consegui postá-los de maneira nenhuma. Se alguém tiver alguma sugestão, agradeço! Estou super triste de não poder compartilhar com vocês este material que ficou tão bacana.

beijos

Bruna La Serra (059276)

RELATÓRIO FINAL - Maximiliam A. H. Ferreira RA:063143

RELATÓRIO FINAL DA DISCIPLINA EL874-J
Maximiliam Albano H. Ferreira – RA: 063143

As atividades de Estágio realizadas no decorrer do semestre foram inspiradas pela perspectiva sócio-histórica de Vygotsky, especificamente as questões da Linguagem, do Letramento e da Interdisciplinaridade. O estágio foi realizado em uma escola pública estadual no bairro do Taquaral, na cidade de Campinas. Após algumas observações do ambiente escolar, foi organizado um roteiro e realizado um plano de ação para intervenção no ambiente escolar.

A PRIMEIRA IMPRESSÃO DA ESCOLA
Inicialmente, visitei a escola objetivando reconhecer sua dinâmica e observar as relações estabelecidas entre os alunos, professores e funcionários, além de uma possível interação com a comunidade. O estágio foi realizado principalmente nas aulas de Física, no período noturno, no qual funcionavam apenas duas turmas: 2º e 3º anos do Ensino Médio, cujo grupo de alunos era formado especialmente por trabalhadores. A primeira impressão tida foi a de absoluto caos e desorganização: devido à falta de funcionários (além dos professores dando aula, apenas a Coordenadora Pedagógica permanecia durante todo o turno na escola, portanto ela era a única responsável por supervisionar toda a escola no período), ninguém parecia se importar realmente com o que ocorria ali, alunos chegavam e deixavam a escola em qualquer momento e entravam e saíam das salas de aula como bem entendiam, os professores, por sua vez, pareciam propensos a ignorar quaisquer situações “átipicas” dentro da escola. No período noturno as aulas não seguiam um cronograma fixo devido às faltas excessivas dos professores ou mesmo a quase que completa ausência de alunos nas turmas. Fisicamente, a escola não era muito atrativa. Com alguns problemas como janelas e carteiras quebradas, as salas de aula um pouco sujas, toda a escola parecia relativamente abandonada.

QUESTIONAMENTOS E INQUIETAÇÕES: ROTEIRIZANDO O ESTÁGIO
As aulas da disciplina de Física que eu acompanhava pareciam, por algum motivo, fugir completamente às “regras” de desordem do restante da escola. Naquelas aulas o professor detinha, minimamente, a atenção dos alunos e, diferentemente de outras aulas às quais acompanhei, nas aulas de Física havia um aproveitamento evidente por parte dos alunos. Alguns deles se interessavam de tal forma pelos conteúdos da aula que traziam, além das dúvidas, diversas curiosidades e indagações acerca dos temas trabalhados. A diferença era tal que não raras vezes presenciei alunos chegando apenas para assistir à aula de Física ou me dizendo que estavam vindo à escola naquela semana, apenas naquele dia, para assistir àquela aula.
Infelizmente, mesmo as aulas de Física, às vezes contavam com empecilhos: a falta de gestão da escola era um desses problemas. Numa de minhas primeiras visitas à escola, por exemplo, a própria Coordenadora interrompeu a aula para perguntar ao professor se ele já estava acabando, pois já estava tarde e todos, inclusive ela, queriam ir para casa descansar. Nessa ocasião o professor estava tirando dúvidas e dando informações sobre ondas devido à curiosidade de um aluno, porém, depois do incidente, com a Coordenadora esperando o término da aula, ele logo terminou e deixou a conclusão das atividades para a semana seguinte.
Dada a abertura do professor e orientado pela Profª Heloísa da disciplina de Estágio da Universidade, defini que minha intervenção seria realizada nas aulas de Física, visando discutir, sob a ótica de Vygotsky, a própria estrutura da escola e identificar sua relação com as vivências de cada de cada aluno procurando fazer com que eles mostrassem seus pontos de vista sobre a diferença, tão clara, entre as aulas de Física e as outras aulas. Os conteúdo da área de Física teriam lugar no processo paralelamente, como um pano de fundo, sempre permeando a relação dos alunos com as aulas dessa matéria, em seguida promovendo o diálogo com outras aulas e disciplinas através de um processo interdisciplinar, depois com o ambiente escolar como um todo, provocando, desse modo, senão uma reorientação norteada pela meta do letramento como parte do processo de inserção social, ao menos uma reflexão mais profunda dos outros professores e dos gestores sobre os rumos da escola.
Defini um cronograma de atividades para as próximas aulas, levando em conta os conteúdos que o professor havia programado, porém, as faltas dos professores e as aulas desconexas da realidade dos alunos os desestimulavam de tal modo que qualquer feriado ou dia em que não havia aula, fosse no começo, no meio ou no final da semana, já servia de pretexto para desconsiderar o restante dos dias úteis. Assim, houve dias em que os alunos simplesmente foram embora por não quererem ter aula, outros, devido às muitas ausências de professores, o desfalque fazia com que apenas uma das turmas do noturno pudesse ter aula ou mesmo nenhuma delas. Foi preciso repensar o plano de atividades do estágio.

MUDANÇA DE PARADIGMAS E AS ATIVIDADES DO GRUPO
Fazendo uso da bibliografia recomendada pela Profª Heloísa e discutindo com o grupo que estava tratando o tema da Linguagem, Letramento e Inter-transdiciplinaridade, notamos que uma das semelhanças entre alguns dos ambientes de estágio era a falta de opinião atribuída aos alunos pelo corpo pedagógico. Nos discursos de professores, por exemplo, pude notar que eles não acreditavam nas capacidades de desenvolvimento dos alunos, pelo contrário, alguns os encaravam como “casos perdidos” ou “completamente desinteressados”, em alguns casos eles os viam até mesmo como incapazes de fazer juízo sobre aquilo que realmente lhes importava.
Em geral, os professores culpavam o “trabalho cansativo” dos alunos, seus déficits de conteúdos de séries anteriores e falta de incentivo da sua família/comunidade pelo mau desempenho nos estudos. Mesmo admitindo que não se sentiam incentivados a realizar um trabalho de qualidade, a maior parte dos professores nunca associava o “fracasso escolar” dos alunos com a desmotivação imposta por aquele ambiente escolar insalubre.
A teorida de Vygótsky dá grande importância para o papel do desenvolvimento da liguagem e de toda forma de letramento no processo de interação e, ainda mais, de inserção social do indivíduo. O grupo, decidiu, portanto, propor, cada um em seu respectivo campo de estágio, algumas questões aos alunos, para que, através de seus discursos, fosse possível diagnosticar qualis os causadores do desinteresse/desmotivação deles próprios e quais suas aspirações acerca da escola.
Na semana em que me propus a realizar as entrevistas com os alunos, a falta de um professor e o desejo da Coordenação em adiantar aulas para acabar o período mais cedo, fizeram com que o horário fosse reordenado de modo que o mesmo professor ficaria responsável pelas duas turmas ao mesmo tempo. Tentando colaborar, acabei por assumir uma das turmas naquela noite e utilizei o espaço das aulas como atividade, tanto de Física como investigativa e de discussão das questões propostas no grupo do estágio.
Para minha surpresa, à questão “O que a escola significa para você?”, alguns alunos responderam muito positivamente utilizando sempre termos como “vida”, e “oportunidade”. Mesmo assim, não faltaram respostas como “nada” ou “gasto de tempo”. Houve um aluno do 2º ano do Ensino Médio que respondeu “Eu odeio a escola. Detesto escola desde que eu eu sou criança, não tem jeito de mudar, isso não é pra mim.”. A questão inversa “O que você acha que você significa para a escola?” causou mais polêmica. Alguns alunos responderam em falas mais pessimistas como “Só mais um número na lista de chamada” ou “Nada de mais, aqui tem muita gente pra alguém ligar pra mim.”.

CONCLUSÕES E O FINAL DO ESTÁGIO: INTERVENÇÃO
No geral, as respostas me permitiram concluir que os alunos viam uma possibilidade de desenvolvimento e inserção social (fosse através do mundo do trabalho ou simplesmente pela aquisição de algum tipo de conhecimento cultural diverso do seu) propiciada pela escola, entretanto, suas atitudes demonstravam claramente que eles sentiam que a escola não estava correspondendo à essa expectativa. Além disso, apesar de o aluno (indivíduo) enxergar na escola (instituição) parte importante de seu desenvolvimento, ele não conseguia perceber-se como parte constituinte dessa instituição.
Passando pelo semestre de estágio, minha própria visão sobre a escola se modificou. No curso noturno, com alguns alunos mais velhos, imaginei que a maturidade poderia estimular os professores, porém notei que o ensino noturno é subvalorizado e encarado não como forma de aquisição de letramento, mas tão somente um processo burocrático para aquisição de certificação. Mesmo com o pouco contato que tive com os professores e atividades das turmas do diurno, me pareceu que o valor dado a essas turmas é muito maior que aquele dado aos alunos do noturno. Descobri diversos resquícios de um período, pouco distante, que parece ter sido mais profícuo do que o atual. Uma mudança recente na Direção parece ter comprometido uma estrutura já antiga e funcional na escola, estabelecendo o caos que notei no começo do semestre.
Seja pela falta de comprometimento, seja pela desordem, alguns professores simplesmente não conseguem perceber que seus métodos precisam ser revistos e a questão da participação ativa dos alunos na escola revisitada. Os problemas atuais de gestão não devem deixar com que a escola como um todo seja prejudicada e para tanto o empenho individual dos professores é essencial.
O grupo que trabalhou a questão da Linguagem, Letramento e Inter-transdiciplinaridade, realizou intervenções semelhantes: trabalhos investigativos das demandas dos alunos na escola, algum tipo de proposta de modificação do sistema atual e, finalmente, aliar todo o estudo teórico, embasamento das discussões e propostas, para, de alguma forma, tentar orientar a escola em um novo rumo de atuação, mais condizente com uma proposta pedagógica facilitadora do processo de ensino-aprendizagem.
Principalmente devido às faltas de horários e disponibilidade do corpo docente, ainda não foi possível apresentar formalmente esses apontamentos a todos em meu campo de estágio, porém, os dados foram organizados e enviados virtualmente para a Coordenação de modo que pudessem ser repassados aos professores.

BIBLIOGRAFIA
BZUNECK, J. A. “As crenças de auto-eficácia dos professores.” In: SISTO, F. F., OLIVEIRA, G de C., FINI, L. D. T.: Leituras de Psicologia para formação de Professores. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, pp 117-134, 2000.
LABURÚ, C. E., BARROS, M. A., SILVA, O. H. M. da “Multimodos e múltiplas representações, aprendizagem significativa e subjetividade: Três referenciais conciliáveis da educação científica”. In: Ciência & Educação, v.17, n.2, p.469-487, 2011
TEIXEIRA, F. M., SOBRAL, A. C. M. B. “Como novos conhecimentos podem ser contruídos a partir dos conhecimentos prévios: um estudo de caso.”. In: Ciência & Educação, v.16, n.3, p.667-677, 2010
VYGOTSKY, L. S. “Pensamento e Linguagem”. 3.ed. São Paulo, Martins Fontes, 1991. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Tirinhas pra se pensar a educação...






Mara Ferreira Alves
(082086)

Vídeos utilizados para atividade de estágio

Olá pessoal,

Como proposto pela Bruna, aqui estão os vídeos que eu utilizei para o desenvolvimento de uma das atividades no estágio.

espero que gostem,

Gabriela.

RELATÓRIO FINAL - Mara Ferreira Alves (082086)

Relatório de Atividades

Local do estágio: xxxxx- Vinhedo

Período: 1° de setembro a 20 de novembro de 2011.

Supervisores responsáveis: Professor xxxx e  professora xxxx


Proposta de atividades

O estágio consiste em uma continuidade das atividades de observações de aulas de História do Estágio Supervisionado I, feitas durante o primeiro semestre de 2011. Para o Estágio II, é pedido que haja intervenção efetiva, que propus que fossem na forma extracurricular com os alunos do Ensino Médio que quisessem participar. Seriam oficinas temáticas com assuntos abordados pelo vestibular, mas trabalhados de uma forma diferente e que estabeleça um diálogo com outras disciplinas, visando uma interdisciplinaridade. Com essa atividade, a proposta era a de pensar a relação ensino/aprendizagem (tendo como base Vygostky) e formas de envolver o aluno na aula, fazendo com que ele fosse parte ativa do seu próprio aprendizado.

A Escola

O xxxx é um dos grandes colégios em Vinhedo, atuando desde 1988, e que nos últimos anos tem se dedicado a instalar programas didáticos americanos na escola. No Projeto Político-Pedagógico, Vygotsky aparece como um dos autores bases para a estrutura da escola. A proposta da escola é que o professor sempre induza o aluno ao raciocínio próprio (“mentes inovadoras”), ao invés de apenas apresentar o conteúdo oferecido pelo material didático. A aula, portanto, conta com a participação ativa dos alunos. Essa participação acontece com as atividades que o aluno fica encarregado: fazer os exercícios que os professores propõem, leituras básicas, e estudo regular dos assuntos que está sendo apresentado nas aulas. Mais especificamente nas aulas de História, o professor sempre pedia leitura prévia com resumo dos capítulos que seriam trabalhados na aula, para que ele pudesse expor o tema de uma maneira diferente da que está na apostila, e para que o aluno já viesse com as dúvidas que teve sobre o capítulo, para serem esclarecidas na aula. E, ao fim de cada capítulo, os exercícios também deveriam ser feitos.

Cada sala tem uma pasta em que é feita diariamente a chamada e onde é anotado o quadro de conduta do aluno: falta de tarefa, mau comportamento, linguajar inapropriado e outras observações do professor. Há também pendurado em cada sala um roteiro de estudos (disponível também online para o aluno no site da escola) que mostra o objetivo das aulas daquela semana. Esse roteiro de estudos é feito pelos professores e deve ser entregue duas semanas antes da aula acontecer.

Debate teórico

Durante as aulas de Estágio Supervisionado II, uma das principais discussões foi sobre os modelos de escola, baseada na leitura do texto de Jairo Werner, Saúde & educação: desenvolvimento e aprendizagem do aluno. O que concluímos foi que embora muitas escolas tenham nos seus projetos um modelo histórico-cultural, na prática o que acontece sempre é o modelo mecanicista: o aluno é encarado como um ser passivo, em que o desenvolvimento é igual a aprendizagem, e que a relação professor- aluno se caracteriza como autoritária. Como mudar isso? Que proposta, dentro de cada área, poderíamos levar às escolas? Como levar nossa contribuição, como estagiários?

Acompanhando as aulas de História do Ensino Médio, fiquei muito surpresa ao ver havia a proposta e iniciativas de tornar o aluno um ser ativo da sua própria educação, mas o que faltava, era interesse dos alunos. A impressão que dava é que eles não queriam ser responsáveis pela sua educação. Não faziam as tarefas e não participavam das aulas, mesmo com o esforço do professor de tentar incluí-los.

Uma das atividades que o professor desenvolveu com os alunos foi a apresentação de seminários. Cada grupo se dividia e apresentava um capítulo da apostila. O professor dava as orientações básicas para uma boa apresentação. O combinado é que todos os alunos iriam com o resumo do capítulo feito, o que daria liberdade para o grupo de pesquisar mais sobre cada assunto. Depois de cada apresentação, o professor abria à sala para comentários e críticas: o que foi bom, o que poderia ter sido diferente, como os alunos apresentaram, se foi confuso, se fazia sentido com o que estava na apostila etc, e o professor fechava com os seus comentários e sugestões para os grupos que ainda iam se apresentar. Gostei muito da iniciativa, mas a participação dos alunos não foi boa. Muitos grupos utilizaram apenas a própria apostila e no máximo a internet para montar um trabalho básico. Poucos foram os que usaram a biblioteca da escola (que oferece muitos livros e apostilados) para trabalhar.

Outro problema foi o modo com que trabalharam com as fontes: a internet, por exemplo. No Ensino Médio eles já sabem podem usar e abusar da internet, com o cuidado de sempre questionar o que é apresentado. Eles sabem porque a escola sempre reforça isso, mas não o fazem. Uma aluna do 2° ano, ao apresentar um seminário sobre descolonização asiática, colocou um mapa da África para ilustrar a Ásia. Ela se defendeu dizendo que havia utilizado um site que só falava sobre Ásia, e que esse mapa estava lá.

Um caso que me chamou a atenção foi a Escola da Ponte, em Portugal, que Rubem Alves descreve em seu livro A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Nessa escola, há uma participação ativa não só dos alunos, mas também dos pais. Os pais se envolvem no processo educacional do filho, através das assembleias semanais que a escola realiza. É muito diferente do que acontece no Brasil: os pais e os próprios alunos jogam toda a responsabilidade da educação nas mãos dos professores e da escola.

O 2° ano do colégio xxxx é uma turma grande que durante todo o ano apresentou problemas de disciplina com a maioria dos professores, e dificuldades em muitas matérias (com vários alunos de recuperação). O coordenador fez uma assembleia em que participaram os pais, os alunos, os professores e a coordenação. Nela, buscaram apontar todas as problemáticas de ambos os lados: o que os alunos poderiam fazer para melhorar nos estudos, e o que os professores poderiam melhorar. Ao final, fizeram um acordo, em que os alunos se comprometiam a melhorar a postura dentro da sala de aula e se dedicar mais aos estudos. Depois de um tempo, o coordenador foi à sala do 2° ano, no período da aula de História, discutir sobre esse acordo. O que os alunos tinham apontado acerca dos professores estava sendo melhorado, mas os alunos não estavam cumprindo a parte deles do acordo. A maioria ainda não fazia tarefas, e apesar do comportamento ter melhorado, ainda era um problema. O coordenador pediu satisfação, porque somente uma parte do acordo estava acontecendo. Muitos alunos se manifestaram sobre isso, mas o que mais me impressionou foi o de uma menina que disse que ela podia responder apenas pelos próprios atos, e não pelo dos outros. Se um outro aluno não estava cumprindo o acordo, ela não tinha relação nenhuma com isso. O máximo que ela pode fazer é exercer a parte dela. E essa opinião foi de uma grande parte dos alunos. Os alunos não se enxergam como um coletivo.

Atividades realizadas

A proposta inicial era a de oferecer oficinas temáticas em História, a partir dos conteúdos trabalhados para o vestibular, com uma abordagem diferente. Depois de algumas aulas que pude observar, os temas que separei foram: “Revolução: a violência é o único meio de mudanças?”; “Descolonização da África: questões de identidade e alteridade”; “História no cinema: A Guerra de Secessão”; “Analisando documento: a Revolução Francesa”; “A arte como propaganda política no nazismo”. Apresentei o projeto para o professor e o coordenador, que se interessaram bastante. Mas, por conta de ser final de ano, o coordenador achou melhor que esse projeto ficasse logo para o começo do próximo ano, que ele poderia dar mais atenção, divulgar na escola e talvez abrir para os pais assistirem também.

Sendo assim, minha intervenção acabou acontecendo no horário normal de aula, para o 1° ano, sobre colonização inglesa e francesa. Parti do pressuposto de que os alunos tem o material (que é muito bom) sempre à disposição, e preparei uma aula com uma abordagem diferente, utilizando das aulas que tive sobre isso na faculdade. Como essa colonização inglesa aparece no imaginário americano? Com essa pergunta como principal questão, levei quadros para analisar na aula e apresentar alguns conceitos, como o dos pais peregrinos, o Mayflower, como os indígenas aparecem nesse imaginário, entre outros.

Conclusão

Pensando no modelo histórico-cultural de Vygostky, todas as aulas de História tem potencial para serem diferentes. Só que mais do que vontade e disposição do professor, é preciso que os alunos entendam sua parte dentro da sua educação. Esse foi o ponto que me pareceu mais importante: fazer com que os alunos se responsabilizem pela sua educação. O aluno é autônomo, e ele tem que se enxergar desse modo.

Na última semana de aula, o coordenador entrou na sala para explicar sobre as recuperações finais. Durante todo o ano, para os alunos que ficaram de recuperação, há sempre alguns plantões de dúvidas e aulas extras para depois o aluno realizar a prova. Para a recuperação final, não há aulas, o aluno estuda por conta própria. O coordenador convidou os alunos a conhecerem o regulamento da escola, porque é um contrato. A preocupação que ele tinha é que de novo aparece o discurso de aluno que reprova de ano porque o professor não o passou de ano. O que o coordenador reforçou foi que o aconteceu foi o que o aluno fez, é o aluno que faz a sua história, que faz seu trajeto. Ele é responsável por sua reprova, e não o professor que não deu décimos de nota para que o aluno passasse. Achei muito interessante o discurso, porque abre o contrato da escola para os alunos conhecerem (e geralmente quem conhece, se conhece, são os pais), e que colocou os alunos como seres ativos dentro da sua própria educação. Esse é o ponto principal em que me concentrei durante esse semestre, e que pretendo levar para o ofício de professora.



Bibliografia

ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas: Papirus, 2001.

VYGOSTKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

WERNER, Jairo. Saúde & educação: desenvolvimento e aprendizagem do aluno; Rio de Janeiro: Gryphus, 2005.

Relatório Final El874- Bruna Raquel La Serra 059276 parte 3

A entrevista escrita com a professora Rosângela, responsável pela turma que acompanhei.

1-Porque Educação Infantil?
R:Já tive a oportunidade de trabalhar tanto com Educação Infantil como com Ensino Fundamental. Sou apaixonada pelas crianças pequenas, elas são inocentes, puras e se entregam de corpo e alma. São muito carinhosas e espontâneas.
2-Você concorda em como a E.I. está hoje?
R: Discordo em dois pontos atualmente. Um deles é que acredito que as crianças de 3 a 6 anos que ficam meio período na escola tem o direito de permanecer na escola em período integral, principalmente porque as mães trabalham.
Outro fator que me incomoda são as crianças de 6 anos saindo da E.I. e indo direto para o Ensino Fundamental. As escolas da faixa fundamental estão demorando para se adequar às crianças desta faixa etária. Sinto que as criança de repente ficam engessadas entre carteiras e cadeira para aprender e perdem o espaço (inclusive físico) do brincar.
3-O que você mudaria? O que mais te incomoda?
R:Duas coisas me incomodam muito. A primeira é que as crianças do EMEI não possuem monitores e as classes chegam a ter até mais de 30 crianças, num agrupamento de idade mista. Já imaginou uma professora com crianças que ainda fazem xixi na roupa  e precisam de atenção específica e não tem ninguém para ajudar porque as professora tem outros 30 alunos para atender? O processo é muito prejudicado.
Outro incômodo, baseado nisso,  é que não sou a favor das salas “multiseriadas”. A mistura de crianças de 3 a 6 anos é boa apenas para servir para a demanda da prefeitura, mas para nós que temos que lidar com as necessidades especificas de cada criança é muito complicado. O mais novo pode aprender com os mais velhos, mas para os mais velhos é muito ruim ter que conviver com as limitações dos mais novos. Isso gera uma desigualdade.
4-Você sente liberdade para propor atividades na escola? Se sente uma boa mediadora?
R:Sim. Somos livres para propor atividades dentro do interesse das crianças e com 20 anos de profissão confio na minha experiência. Mas vale dizer que estamos todos os dias aprendendo. Acredito que sou uma boa mediadora, pois escuto e observo muito as crianças para dar o próximo passo sempre.
5-Você acredita que os alunos vem para a escola mais para aprender ou para serem cuidados?
R:As duas coisas, já que educar no E.I. pressupõe as duas propostas.Não há como separar esses dois processos.
6-Você concorda com o currículo? Proporia algo novo?
R:Sim. Uma mistura de brincar e aprender. A PMC nos propõe muitas coisas boas, o único problema é a estrutura para tanto. Este ano participamos da palestra da Maria Carmem Silveira Barbosa, onde ela enfatiza respeitar a cultura da criança e sempre colocar a brincadeira como ponto de partida do nosso currículo.
7-Vocês conhecem e discutem o PPP? Colocam em prática?
R:Sim e ele funciona muito aqui na escola. Montamos um no início do ano e avaliamos o desempenho elaborando um novo a cada  final de semestre.
8-Vocês tem ouvido as crianças ou se apegam mais aos relatos da família?
R:Muito. Este ano com a nova orientadora, Martha, enfatizamos mais ainda este trabalho. Estamos avaliando, ouvindo as crianças, o que gostaram, o que não gostaram... E a partir disso, reavaliamos nosso trabalho.
9-Você sente que há uma pressão do E.I. sobre o letramento  e a alfabetização?
R:Pressão não. Mas temos um forte incentivo em trabalhar o letramento e não a alfabetização.
10-Há espaço para o brincar? Nesse sentido você  já aplicou alguma atividade que funcionou bem?
R:Sim. Temos o parque com campo, a biblioteca, a casa lúdica, a sala de aula com muitos brinquedos e jogos. Neste ano temos ainda o professor Juracy que é estagiário de Educação Física e vem duas vezes por semana e sempre propõe atividades criativas.

Relatório Final El874- Bruna Raquel La Serra 059276 parte 2

FOTOGRAFIAS

Como o blogger não é uma boa plataforma para postar fotos, eu criei uma conta no flickr para postar todas fotografias que realizei no estágio. Peço para que visitem o endereço e vejam o resultado. Todas as fotos estão com legenda para que vocês entendam um pouco do que seria explicado no dia da apresentação.






O que é mais legal de notar é o que foi desenhado por cada aluno na proposta da intervenção: "Desenhe o que mais gosta na escola". Muitos desenharam a comida (importancia da merenda), a hora de lazer, elentos da casa e familiares. Será que essas coisas ainda são mais importantes para os pequenos do que a escola em si? E a maioria, com unanimidade, desenhou o parque, ou seja, a hora de brincar, onde vemos como o lúdico é um apelo importante nesta fase do desenvolvimento.

Relatório Final El874- Bruna Raquel La Serra 059276 parte 1

A escola
A escola onde realizei o Estágio II foi o EMEI xxxxx. Ela fica situada na xxxx, que é um bairro simples, porém ainda bem localizado, com acesso à cidade e à estrada. O contraste é interessante porque o colégio simples e bairrista fica rodeado de condomínios e residenciais. De um lado temos a cidade e vemos os residenciais xxxx e do outro lado da pista vemos o grande condomínio xxxx.
Apesar de ser um colégio simples, ele possui uma boa estrutura. Um guarda cuida da entrada do colégio, o parque tem muitos brinquedos e até uma casinha lúdica, as classes são alegres e enfeitadas, o refeitório é organizado e possui uma Tv com vídeo (onde na hora da merenda as crianças vêem desenhos), a cozinha é boa e os banheiros são higiênicos. A biblioteca é um pouco ruim e é improvisada, os livros e brinquedos utilizados na alfabetização me pareceram todos resultado de doações (livros repetidos, brinquedos quebrados). A escola me surpreendeu porque se mostrou alegre e organizada, porém dentro dos limites de uma escola da Prefeitura.
Optei por uma escola de ensino infantil da rede estadual para poder contrastar com minhas experiências anteriores. Já tinha acompanhado aulas de sociologia com adolescentes em escola pública, outras disciplinas com pré adolescentes de escola particular e cheguei à conclusão de que agora era o momento certo para analisar a Educação Infantil.
Confesso que foi a melhor coisa que fiz, porque até hoje, mesmo tão perto de me formar em Licenciatura ainda não tinha a certeza de que era isso que eu gostaria de fazer em minha vida profissional. Ser professora? Me parecia algo um pouco árduo demais, já que venho de uma família de professores e acadêmicos. Porém, nesta experiência com os “pequenos” descobri meu nicho de interesse e o que realmente me inspira dentro da educação. Acredito que apesar de estar com os alunos praticamente poucas vezes por semana, consegui desenvolver um bom trabalho e a professora Rosangela, responsável pela classe, disse que eu tinha muito jeito para a Educação Infantil.
Honestamente, agora sinto muita falta dos alunos, da particularidade de cada um, dos desenhinhos, das flores que ganhava na hora do parque, dos abraços tão puros, dos ensinamentos que eu dava e eles acatavam com respeito, da maturidade inesperada que eles revelavam me surpreendendo e da interação profunda que eles me permitiram. Foi uma experiência muito positiva e que com certeza será decisiva para meu futuro.
Descrição da classe/alunos
A classe acompanhada foi a “Turma do Macaco” (cada classe é um animal), com alunos de 3 a 6 anos- denominada pela prefeitura como Agrupamento III. Acompanhar uma turma tão mista e heterogênea foi muito importante para a reflexão levantada.
As crianças em geral são de famílias de baixa renda (o que poderá ser percebido na intervenção quando eles mostram que uma das coisas mais importantes no colégio para eles é a comida), moram com muitos irmãos e às vezes com outros parentes.  O nível de instrução dos familiares é de no máximo 2º grau completo.
Projeto Político Pedagógico
Logo que cheguei para conhecer o colégio a orientadora pedagógica me mostrou o PPP com bastante orgulho. Ele era enorme e me pareceu apenas um troféu sem utilização real. Porém ao longo do estágio, conversando com as professoras e lendo o material, fiquei surpresa não só com a qualidade como com a utilização prática dele no cotidiano daquela escola.  
Todo ano o PPP é refeito, sendo feitos 3 no total a cada ano letivo.  Eles possuem um inicial de planejamento e outros dois, um ao final de cada semestre. Logo no começo do ano são feitas reuniões com professoras para planejar as ações do ano, entrevistas são feitas com os pais dos alunos e disso tudo montam-se gráficos e tabelas bastante organizados. Todo o material possuía também embasamento teórico nos principais pensadores da pedagogia e, para meu espanto, tudo possuía muita conexão e não eram apenas informações soltas.  Como as professoras participam ativamente do processo ao longo da elaboração dos 3 materiais, todas tem conhecimento do conteúdo e dos direitos e deveres delas e dos alunos.
Questões de linguagem e letramento também são abordadas em um capítulo especial e o que me surpreendeu foi a ênfase que deram à importância do brincar permeando as atividades, sendo um dos objetivos. Descobri ainda que, no fim de cada semestre, as professoras entrevistam seus alunos e este material é compilado, servindo de base para repensar as atividades. A importância do brincar aparecia muito neste material semestral e começou a me instigar.
Inquietação
Partindo dessas leituras do PPP, das leituras da disciplina e do meu conhecimento sobre a Educação Infantil, comecei a questionar porque questão da brincadeira estava sendo tão enfatizada, sendo que deveria ser algo óbvio e intrínseco à educação de crianças desta idade. Porque o colégio queria resgatar este valor? Descobri então que cada vez mais a urgência do letramento e da alfabetização tem sido propulsoras de uma mudança do ensino infantil. Muitas escolas estão antecipando a alfabetização para que os alunos já entrem no 1º ano já com o conhecimento adiantado, o que é um absurdo porque, além de desmotivar os pequenos a irem para a escola, acaba destruindo uma fase de desenvolvimento lúdico e motor fundamental, onde a brincadeira deve ser protagonista.
Conversando com a professora (vocês poderão ver isso no vídeo e na entrevista escrita) ela disse que essa é uma preocupação não só do colégio como de toda a rede da Prefeitura. Ela comenta que eles tiveram até uma palestra a respeito do assunto, colocando a importância da ludicidade, e que ela discorda dessa aceleração da alfabetização.
Neste processo um filme que me inspirou muito foi o “An Invisible Sign-Matemática do Amor” que trata dessas questões e apresenta soluções interessantes, mostrando principalmente que este não é um processo fácil. Vocês podem ver meu comentário sobre o filme aqui:  http://el874j.blogspot.com/2011/11/analise-do-filme-invisible-sign.html

Além disso, outro fator foi me intrigando no processo. Os alunos pequenos são realmente ouvidos? Suas necessidades são atendidas ou as professoras se apegam apenas aos relatos dos familiares e os bilhetes do caderno para compreender seus alunos? Porque eu notei que os alunos, por carência ou não, falam o tempo todo sobre suas vivencias pessoais, sobre o que aconteceu em casa, sobre o que querem, o que gostam... (isso aparece na intervenção com desenhos). Isto é considerado?
Muitas vezes, os alunos, por conta da pouca idade, são considerados incapazes de ser um sujeito ativo do processo educacional, enquanto na verdade eles são perfeitamente produtores e reprodutores de cultura. Pensa-se que eles são muito pequenos e, portanto, limitados para dizer corretamente o que sentem, o que querem e esperam da escola e para intervir no ensino. Mas precisamos entender que isto é um equívoco.
Ouvir as crianças é algo primordial no ensino infantil e é surpreendente a capacidade crítica de alunos tão pequeninos (vemos isso na filmagem deles). Para isso, a linguagem é instrumento e matéria prima do processo. Se para Vygotsky “a fala não pode ser descoberta sem o pensamento”, o papel do professor é instigar, mediar e interpretar essas expressões diárias das crianças. A partir disso, o terreno para uma intervenção pedagógica fica muito mais claro e possível.
Dificuldades e mudança de visão
Apesar de todas essas percepções, eu ainda não conseguia imaginar uma intervenção plausível e nem organizar tantos questionamentos soltos que surgiam dia após dia de estágio e isso começou a me angustiar profundamente.
Neste processo, a professora Heloísa permitiu que eu lesse seu artigo- ainda em fase de elaboração- “Repensar o currículo na Educação Infantil: implicações sobre o brincar e a (lingua)gem para/na a construção do Projeto Político Pedagógico” em parceria com a Dra. Neusa Lopes Bispo Diniz. Esta foi uma guinada para organizar minhas idéias e perceber que eu estava no caminho certo com minhas observações.
Na perspectiva Vygotskyana do modelo histórico-cultural o homem é um ser social, ou seja, as relações entre os homens são cruciais para o desenvolvimento. Neste sentido, a atuação e intermédio de outras pessoas são muito importantes para o processo educacional, sendo o professor uma ponte entre o conhecimento e a subjetividade e os limites de cada um dos alunos (conceito de zona proximal). Na educação infantil o professor seria a mediação para despertar o interesse das crianças para que elas façam descobertas, aprendam e se desenvolvam.
Assim, o papel do professor é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem e principalmente para propor ações lúdicas e apropriadas para o Ensino Infantil, compreendendo a especificidade e subjetividade de cada aluno, considerando-os sujeitos ativos e participantes. É fundamental conhecer as concepções das próprias crianças envolvidas neste processo, isto é, acima de tudo, parte da função social da escola. É crucial valorizar a infância, sua cultura própria, repleta de brincadeiras, fantasia e movimento.

A intervenção
Após este embasamento teórico, voltei a Vygotsky e consegui desenvolver com mais segurança a minha intervenção. Se os maiores pontos de problemática que eu havia notado eram a falta de diálogo e brincar, eu precisaria envolver estes dois processos na intervenção.
Decidi primeiramente fazer uma roda com os alunos dando espaço para o diálogo, para que eles mostrassem suas opiniões e sentimentos a respeito da escola. Este processo foi filmado com autorização da escola.
Minhas perguntas principais foram uma adaptação do que meu grupo desenvolveu, pois eu fui a única a trabalhar com Educação Infantil:
1-O que na escola deixa vocês alegres?
2-O que na escola deixa vocês tristes?
3-Como seria a escola do sonho de vocês?
Após este diálogo, pedi que os alunos desenhassem o que mais gostam na escola, envolvendo-os numa atividade de ludicidade com papel e canetinha.
Após colher as informações, fiz duas entrevistas com a professora: uma filmada e outra escrita.


Conclusão
Ter a oportunidade de estudar Vygotsky este semestre foi muito importante em minha jornada. A partir dos conceitos de zona proximal e o papel intervencionista do professor como mediador pude ver a escola como um espaço fundamental na construção das subjetividades infantis, sem perder de vista o brincar como parte integrante de todo o processo educativo.
Compreendi a importância de combater o encurtamento da infância pela exigência do letramento na Educação Infantil, permitindo que tenham direito à brincadeira, parte crucial do seu desenvolvimento. Para Vygotsky,  a brincadeira é tão crucial quanto era o jogo simbólico para Piaget, ou seja, esta situação lúdica e imaginária permite que a criança avance no entendimento das regras da realidade através do paralelo com a situação de faz de conta.
Nós somos essencialmente seres sociais e, portanto estaremos sempre ressignificando a cultura, imitando semelhantes (a imitação é importante para Vygotsky) para aprender e sendo mediados pela atividade humana. Porém o contato e desenvolvimento não se dá de forma espontânea, “a intervenção deliberada dos membros mais maduros da cultura no aprendizado é essencial ao seu processo de desenvolvimento”. Se compreendermos esta relevância teórica, entenderemos a imensa importância da escola e do educador no processo de ensino-aprendizagem.
Bibliografia
BZUNECK, J. A. “As crenças de auto-eficácia dos professores.” In: SISTO, F. F., OLIVEIRA, G de C., FINI, L. D. T.: Leituras de Psicologia para formação de Professores. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, pp 117-134, 2000.
OLIVEIRA.M.K. Vygotsky:  aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio histórico. SP: Scipione, 1997.
VYGOTSKY, L. S. “Pensamento e Linguagem”. 3.ed. São Paulo, Martins Fontes, 1991. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Relatorio Final El874 - Priscila Garcia Gomes, 063733

A escola

            O estágio foi realizado no período noturno, em uma escola de Ensino Médio. Nesse período há apenas duas salas de aula, uma de terceiro e outra de segundo ano. De uma forma geral as salas são bastante agitadas e barulhentas. Os alunos são em sua maioria trabalhadores e que, de certa forma, já chegam na sala de aula com o corpo ou a mente cansados, e por isso, o grande desafio do professor é chamar  e manter a atenção dos alunos.
            Os professores eram de estilos variados. Cada um trabalhava de uma forma e tinha sua maneira de avaliar. Mas, de uma forma geral, havia um certo desânimo em se dedicarem e se esforçarem para dar uma aula valiosa. As causas disso, claro, são muitas, e não é possível julgá-los sem antes fazer uma análise justa de inúmeros fatores que permeiam o que chamamos de “escola”.
Um fato bastante comum e que no início me assustou, foi que os professores e a diretoria pareciam ter um acordo de que as ultimas aulas de quinta e de sexta não precisavam ser dadas. Outro fato interessante, que acontece por que os professores faltam bastante, foi que algumas vezes o mesmo professor fica responsável por duas turmas no mesmo horário. Ele fica então, intercalando entre as duas salas, o que causa um certo tumulto.
Conversando com um dos professores, fiquei sabendo que a diretoria recentemente mudou e que a nova diretora não é uma pessoa muito rigida. Infelizmente, ela não é muito presente no período noturno e isso faz com que os alunos percam certos limites no que diz respeito à autoridade da coordenadora e dos professores.
Acompanhei professores de diferentes perfis, sendo que um deles se destacou muito por ser um excelente profissional. Suas estratégias em sala de aula me ensinaram muito e pude conhecer um professor que assumiu o seu papel de influenciar seus alunos de forma que eles cresçam e se tornem cidadãos.


O estudo - Motivação

Conforme o acompanhamento do estágio do semestre passado e a reflexão sobre a estrutura da escola atual no Brasil, percebi que o tema MOTIVAÇÃO muito me interessava e resolvi então explorar esse tema na escola. Buscar entender o que traz motivação e o que traz desmotivação para os alunos e para os professores, pois através disso, pode-se começar a pensar em como modificar positivamente a situação dessa e de outras escolas.
Para realizar esse estudo pensei em utilizar algumas ferramentas: acompanhar os alunos em diferentes tipos de aula e observar o que faz com que participem das aulas, realizar entrevistas com os alunos e conversar bastante com o professor mais motivado da escola.
No acompanhamento das aulas percebi que existiam três tipos de professores. O primeiro se tratava de um que apenas passava um texto na lousa e falava para os alunos copiarem porque aquele texto cairia na prova. Não explicava o texto e também não explicava qual a razão de estar estudando aquele conteúdo. Eu percebia que os alunos faziam muito barulho nessa aula e não escutavam nem os números da chamada gritados por ele. Percebi que não fazia sentido para eles aqueles textos e nem o motivo de estudar aquele conteúdo.
O segundo professor fazia o contrário, não passava nenhuma matéria na lousa, e ficava falando a aula inteira. Quando se tratava de algo para os alunos copiarem, ele ditava. Nessa aula os alunos ficavam muito quietos, pois qualquer barulho já era suficiente para o professor ficar muito bravo. De certa forma, o domínio que esse professor tinha da sala era muito bom, pois os alunos não faziam nenhum barulho. No entanto, como os alunos não podiam falar nada, não ficava claro o quanto estavam aprendendo.
O terceiro professor é o que me referi como excelente. Suas aulas eram muito equilibradas e seguiam um padrão. No início da aula sempre passava o conteúdo na lousa. Esperava que os alunos copiassem e logo que acabavam, começava a explicar aquilo que estava escrito. A sua explicação era muito boa e dinâmica. Ele explicava de forma contextualizada, fazia os alunos rirem, fazia muitas perguntas e a explicação era basicamente uma conversa entre ele e a sala. Eu percebia que os alunos gostavam muito. Eles participavam, respondiam as perguntas e se interessavam pelo assunto.
Esse terceiro professor também usava a estratégia de sempre levar para a sala de aula um objeto curioso, relacionado com o assunto abordado. Ele usava esse objeto para chamar a atenção dos alunos e com ele explicava o assunto, conforme a matéria.
Em algumas aulas desse último professor os alunos faziam muito barulho. Eu presenciei alguns momentos assim. Algumas vezes ele simplesmente parou a explicação, ficou olhando para a sala e a sala silenciou-se. Uma outra vez ele parou e falou para a sala: “Eu estou aqui trabalhando e vocês estão brincando com o meu trabalho, quando você estão trabalhando, alguém fica brincando?” e assim a sala ficou quieta.
Em uma de suas aulas havia um aluno sentado em uma cadeira, sem carteira, que não estava copiando a materia que o professor passava na lousa. Ele ficava apenas conversando com as pessoas que estavam ao seu redor, e não fazia nada. Depois de terminar de passar a materia na lousa, o professor passou a andar pela sala. Quando viu a postura desse aluno, parou para conversar com ele. Perguntou porque ele não estava copiando e o aluno argumentou que faltava na escola a um mês e que então tudo já estava perdido. O professor, carinhosamente, começou a aconselhar o aluno, dizendo a ele que deveria pensar em progredir, em crescer. O aluno pegou seu caderno na mochila e passou a copiar. Comecei a percceber com essa atitude que o professor estabelecia uma relação com seus alunos e que se importava com eles, e com certeza, os alunos sentiam-se mais valorizados.


As entrevistas

Elaborei uma entrevista e chamei alguns alunos para responderem. Os participantes trabalhavam durante o dia e um deles fazia curso técnico.
Percebi que algumas respostas foram muito enfáticas e podiam me mostrar algo. Quando perguntei “Por que você estuda (o que te faz vir e estar na escola)?”, todos os alunos responderam que queriam ser alguém na vida, que os estudos fariam conseguir um emprego melhor. Essa resposta me mostrou duas coisas: primeiro: em algum lugar esse alunos querem chegar e segundo: de alguma forma a escola é importante na caminhada para se chegar a esse lugar. Esses alunos são pessoas já independentes, que trabalham, que querem ajudar sua familia, que querem melhorar de vida.
Um dos alunos falou que vai à escola porque quer saber dialogar melhor com as pessoas, e que na escola ela tem contato com outras pessoas, alunos e professores, e que isso irá ajuda-la. Então, na perspectiva desses alunos, a escola tem o seu papel.
Outra questão perguntava o que, na escola, os motivava. Todos responderam que não havia nada na escola que os motivava, ou seja, eles sabem da necessidade de frequentar a escola, eles continuam lá, mas nao existe nada na própria escola que os faça querer ir. Perguntei mais detalhes sobre essa questão e eles falaram que desanimam porque as aulas sao ruins, porque a escola é desorganizada, porque os professores vão embora nas ultimas aulas.
Nesse momento algumas coisas começaram a ficar um pouco claras. Até então, eu nao tinha muita certeza se os alunos percebiam a falta de respeito que certas atitudes, como cancelar uma aula só porque se trata de quinta ou sexta a noite, se tratava de uma falta de respeito com eles. Mas com essas perguntas, comecei a entender que eles percebem sim, e que isso é bastante sério.
            Perguntei como eram as aulas que motivavam e como eram as que desmotivavam e ouvi as seguintes falas: o professor motiva quando trata bem os alunos, quando escuta suas as duvidas, quando dialoga com a sala, quando é atencioso quando os alunos vão até sua mesa, quando o professor se importa com eles e dá conselhos, quando o professor os deixa a vontade na sala. E o que eles mais odeiam: quando na explicação o professor só fica falando e não deixa os alunos expressarem se estão entendendo ou não, quando só passa a matéria na lousa e pede para copiar, quando a aula é ruim e quando eles são chatos.
            Por outro lado, os alunos não gostam quandos os professores apenas passam a matéria na lousa ou quando apenas explicam. Eles me falaram que alguns professores não deixam que eles participem das aulas, que façam perguntas e que isso é horrível. Eles não gostam quando não podem se expressar.
            Comecei a entender a importancia da relação entre o professor e o aluno. Quando fiz a pergunta “Para você o que é um bom professor?”, obtive respostas como: “Tratar bem o aluno e dar uma boa aula.”, “Seria aquele que ensina e que vê realmente se o aluno está interessado e se ele ver que não está interessado tentar te motivar, que presat atenção nos seus alunos e vê se eles estão aprendendo ou não.”, “Professor que nos faça sentir a vontade.”
Em um dos textos relacionados à Vigotsky, encontrei a seguinte afirmação:  “É desejável que o professor  promova na sala de aula um ambiente afável, transmitindo ao aluno um sentimento de pertença, onde se sinta integrado e veja legitimadas as suas dúvidas e os seus pedidos de ajuda.” Quando li esse trecho percebi o quanto ele trata uma realidade presente dentro daquelas salas de aula. Quando o professor permitia que o aprendizagem acontecesse nesse meio de confiança, de uma relação estabelecida, tudo parecia fluir.
            E o contrário também se confirmou claramente. Quando o professor não estabelece uma relação, quando explica da forma que escolheu e não da forma que é boa para os alunos, quando não existe de fato uma integração entre o professor e seus alunos, a aprendizagem parece ficar bloqueada. A relação entre o professor e o aluno parece ser um canal por onde a aprendizagem pode fluir.


A intervenção

            Peguei os dados conseguidos nas entrevistas e também minha reflexões e levei para apresentar na reunião semanal com todos os professores. Infelizmente, do período noturno havia apenas dois professores, mas mesmo assim pude discutir alguns temas.
            Contei aos professores os objetivos do meu estudo e contei as respostas dos alunos. De início os professores foram bastante resistentes com relação à dedicação dos alunos. Eles afirmaram que os alunos não querem aprender, que não se importam com os estudos. Tentei mostrar a eles o que fazia com que os alunos tivessem vontade de aprender e o que trazia desmotivação, e qual a responsabilidade do professor em conquistar os alunos e promover motivação.
Tentei mostrar aos professores os padrões que seguiam acontecendo nessa escola: quando um professor acredita nos seus alunos, mostra que sua aula é valiosa e mostra que deseja que os alunos aprendam, eles respeitam e fazem as tarefas. Mas quando um professor faz as coisas de qualquer jeito, os alunos só conversam e não param para prestar atenção. Um dos professores comentou que quando o professor está motivado ele consegue motivar seus alunos, mas quando está desmotivado, a sala se torna desmotivada.
Mas não é apenas a qualidade da aula que os alunos mostraram como critério para quererem aprender. Com a análise de suas atitudes dentro da sala de aula e a análise de suas respostas, fui percebendo que o professor deve se envolver com a sala, deve se abrir para as necessidades da sala. Em um dos textos o autor fala que “o processo de aprendizagem não é visto como a substituição das velhas concepções, que o indivíduo já possui antes do processo de ensino, pelos novos conceitos científicos, mas como a negociação de novos significados num espaço comunicativo no qual há o encontro entre diferentes perspectivas culturais, num processo de crescimento mútuo. As interações discursivas são consideradas como constituintes do processo de construção de significados.”
A aprendizagem não é apenas uma transmissão de conhecimento, que acontece se o professor souber o conteúdo e apenas transferi-lo para seus alunos. A aprendizagem é construída em conjunto, na relação do professor com os alunos e na relação entre os alunos. Se o professor não conversa com a sala, não ouve o que seus alunos têm a dizer, ele não faz uma ligação com a sala, mas apenas fala aquilo que acha que deve falar, como se o conhecimento fosse simplesmente transferido.
Em outro texto: “Entendia que a aprendizagem não era uma mera aquisição de informações, não acontecia a partir de uma simples associação de idéias armazenadas na memória, mas era um processo interno, ativo e interpessoal.” A aprendizagem é algo incrível e difícil de descrever. Mas com certeza não é algo que acontece no indivíduo isoladamente. A escola, a sociedade, os professores, os colegas de sala, os colegas de trabalho, etc, participam da aprendizagem indiretamente.
Após a reunião, o “professor excelente” continuou conversando comigo sobre o assunto da reunião, porque disse que gostou dos pontos que levantei. Ele me falou que a discussão que eu trouxe deveria acontecer sempre naqueles horários, mas muitas vezes a reunião é usada apenas para fazer acertos de notas.
Conversamos muito sobre a escola e sobre o seu papel. A reflexão que fizemos sobre a sociedade e sobre a escola foi muito intensa. Falamos sobre a queda na autoridade da escola como fonte do conhecimento, falamos sobre os comportamento dos pais, que cobram nota dos professores e não dos seus filhos, falamos sobre o modelo da escola de hoje, entre outras coisas.
Vygotsky, segundo Freitas (2000), concebe o homem como um ser histórico e produto de um conjunto de relações sociais. (...) O autor considera que a consciência é engendrada no social, a partir das relações que os homens estabelecem entre si, por meio de uma atividade sígnica, portanto, pela mediação da linguagem. Os signos são os instrumentos que, agindo internamente no homem, provocam-lhe transformações internas, que o fazem passar de ser biológico a ser sócio-histórico. Não existem signos internos, na consciência, que não tenham sido engendrados na trama ideológica semiótica da sociedade.
Com nossa conversa, fui percebendo que analisar a escola e o comportamento dos alunos não é uma tarefa fácil. Os alunos não são seres isolados, que vão aprender se tiverem inteligência ou desenvolvimento necessário. Eles estão imersos na sociedade e por isso são influenciados por ela, bem como, por outro lado, podem influencia-la.
Esse professor me falou algo que me marcou muito. Ele me disse que o vínculo do professor na escola é algo muito importante e que determina outros fatores. Ele disse que um professor novo entra e sai da escola e não se envolve muito, e os alunos também não sabem exatamente quem ele é. Mas quando o professor fica por um bom tempo na escola, quando é conhecido por todos e conhece todos, tudo muda. Ele falou que essa relação do professor com a escola e com os alunos faz com que se importe mais, que se envolva mais com suas responsabilidades.
Isso mostra que é necessário que o professor se envolva com a história de cada aluno, que se envolva de verdade com a escola, pois assim ele se vê responsável por tudo que acontece. E assim, ele estabelece uma relação com a escola, uma relação com os alunos e através dessa relação a aprendizagem se torna possível.





Bibliografia

         Motivação para aprendizagem escolar: possibilidade de medida, de Luciana Gurgel Guida Siqueira e Solange M. Wechsler, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
         Motivação e aprendizagem em contexto escolar, de Filomena Ribeiro, da Escola Secundária de São Lourenço
         Atividade discursiva nas salas de sula de ciências: uma ferramenta sociocultural para analisar e planejar o ensino, de Eduardo F Mortimer, da Faculdade de Educação - Universidade Federal de Minas Gerais
         Desenvolvimento Moral: Considerações Teóricas a Partir de uma Abordagem Sociocultural Construtivista, Lincoln Coimbra Martins, Universidade Federal de Minas Gerais
         Vygotsky e as teorias da aprendizagem, Rita de Araujo Neves, Mestrado em Educação PPGE-FaE


sábado, 3 de dezembro de 2011

Relatório Final - Renata de Oliveira Antonio 082647


A escola
                As atividades deste estágio foram realizadas nas aulas de música das turmas de 2°, 4° e 5° ano em um colégio no centro de Campinas em parceria com a minha colega Adriana Barreto, também da música. A escola é grande e tem muitos alunos.
                As aulas de música acontecem em uma sala própria, repleta de materiais e instrumentos musicais, estrutura essa que é um tanto quanto incomum nas aula de música. Por ser uma escola grande, tivemos contato basicamente com as crianças e a professora de música. Esta nos recebeu muito bem, sempre disposta a ouvir nossos comentários e dúvidas, explicar suas atividades e conteúdos bem como a nos aconselhar em nossas atividades. Não tivemos problemas de aceitação e adaptação das crianças em relação a nós. Elas estão bem acostumadas a receber estagiários.
                Com duração de 50 minutos, as aulas são compostas por atividades bastante variadas, que abarcam diversas formas de estímulos e conteúdos, dentre eles apreciação, teoria musical, percepção, execução de instrumentos, criação, composição e ritmo. Os mesmos eram trabalhados de formas diferentes, de acordo com cada faixa etária.
                A professora procurava partir da realidade das crianças e assim fazer uma ponte com os conteúdos que ela queria desenvolver. Por exemplo: as crianças tocavam na flauta a música “I gotta feeling” do grupo The Black Eyed Peas e também um trecho da Nona Sinfonia de Beethoven.


Atividades Desenvolvidas
                Começamos nossas atividades no final de setembro. Até nos adaptarmos às turmas, observar e compreender o ritmo das aulas de música já estávamos no final de outubro, início de novembro, época em que as turmas estão se preparando para a festa de final de ano. Assim, não pudemos intervir muito no trabalho da professora. Dessa forma, realizamos duas atividades apenas com o 2° ano.
                A primeira atividade envolvia quatro partes:
- Brincadeira da Estátua com instrumentos: enquanto a música toca, todos devem “dançar” tocando um dos instrumentos que estiverem ouvindo. Quando a música para, todos param tocando este instrumento. A música era “Boas festas”, de Assis Valente em arranjo com a cantora Simone e o grupo Timbalada.
- Ouvir e cantar a letra: depois de terem se familiarizado com a letra e a música na brincadeira anterior, as crianças deverão agora realmente “parar para ouvir” comentando os instrumentos que fazem parte do arranjo e aprender a letra da música.
- Execução de instrumentos: uma parte da turma deveria executar determinada célula rítmica com o tambor e a outra parte, uma célula diferente nos sinos criando um acompanhamento para a música. Um terceiro grupo formaria o coro. Eu ou a Adriana iríamos reger as crianças.
- Trocando de regentes: as crianças iriam, agora, reger.
                Os conteúdos musicais trabalhados foram: apreciação, discriminação de instrumentos, postura e movimento dos instrumentistas na execução de seu instrumento, a figura do regente e seus gestos expressando códigos musicais, acompanhamento rítmico, atenção e concentração, o tocar em grupo.
                A professora nos deu total liberdade para trabalharmos da forma como quiséssemos, pedindo apenas que levássemos uma música de natal para não fugir ao tema e sequência das aulas. Para preparar as atividades não perguntamos o que havia sido trabalhado ou não para aproveitar o retorno que as crianças fossem oferecendo durante a própria atividade e pudéssemos analisar a bagagem que elas traziam.
                Nosso objetivo com essa atividade era analisar brevemente a bagagem musical das crianças, seu desempenho e o processo de envolvimento com nosso trabalho de forma a pesquisar alguns aspectos da motivação envolvidos.
                A segunda atividade foi uma entrevista coletiva com a sala realizada na semana seguinte à realização da primeira. Fizemos apenas três perguntas para a sala.
Na entrevista, foram feitas as seguintes perguntas:
1)Qual atividade vocês mais gostaram? Porquê?
A maioria respondeu: ser o regente e brincar de estátua porque é uma brincadeira muito legal e engraçada.
 2)O que vocês aprenderam nessas atividades?
Respostas: escutar música, uma nova forma de brincar de estátua, a tocar uma música mesmo sem os instrumentos de verdade, a ser maestro, a tocar no ritmo, a prestar atenção nos instrumentos da música.
 3)O que vocês fariam de diferente?
Respostas: brincar de estátua com os instrumentos que não estávamos ouvindo, quando a música parasse, poderíamos tocar instrumentos de verdade,ao parar a música só poderíamos mexer a parte no corpo usada par tocar aquele instrumentos, quando a música parasse poderímos imitar um instrumentos da mesma família (cordas, percussão por exemplo), tocar instrumentos que começassem com a mesma letra de algumas palavras da música.
                A entrevista serviu para analisarmos a bagagem musical que traziam, em que pontos poderímos ter exigido mais ou menos, o que as crianças puderam absorver conscientemente (o que elas lembravam) e o que mais as atraiu.

                Após a realização das atividades chegamos às seguintes conclusões: as crianças se envolveram, participando em todos os momentos. Conseguiram fazer tudo o que havíamos proposto.  Encontraram alguma dificuldade apenas na hora da brincadeira do regente. Isso se deveu ao fato da forma como a professora já havia trabalhado este conteúdo com elas, que envolvia apenas os gestos de dinâmica (forte e fraco). Nós pedimos que elas dessem as “entradas” para os instrumentos, ou seja, apontassem para aqueles que deveriam tocar e também realizassem o “corte” (momento em que todos deveriam para de tocar). Apresentávamos ali um conteúdo novo para a turma.
                No início desta etapa da atividade eles ficaram um pouco confusos, mas assim que fomos corrigindo e insistindo nesse novo gestual eles começaram a entender a atividade e desenvolver seus próprios gestos e características na forma de reger. Assim: a primeira criança só conseguiu reger as dinâmicas, repetindo o que eles já tinham aprendido com a professora. A segunda criança já passou a fazer gestos representando o tambor e os sinos, apontando para estes. A terceira criança já conseguia dar entrada para os instrumentos e também fazer os cortes. Todas as crianças queriam ser o regente. A pedido das crianças, antes de encerrar a atividade deixamos que elas dançassem livremente a música.
                Dessa forma, pudemos perceber como aspectos presentes na atividade favoráveis a esta: o movimento (dança na estátua e no final), o jogo (estátua), a liderança (ser o regente) e o desafio (conseguir realizar os novos gestos), fatores estes que mais motivaram as crianças a participar e empenhar-se na realização da mesma.

Sob a ótica de Vygotsky
                Pude notar, neste estágio, desde a observação das aulas de música até a nossa prática com as crianças, vários aspectos da teoria vygotskyana.
                 As aulas que observei vão ao encontro da teoria psicopedagógica de Vygotsky uma vez que priorizam a vivência e prática e são calcadas na experiência e interiorização do novo, processos essenciais para a aprendizagem (apropriação/interiorização). Além disso, a professora parte da bagagem dos alunos e de seu contexto para organizar seu trabalho. Isto evidencia-se principalmente em duas ações da mesma:
1)Toda semana um aluno traz algum conteúdo ou prática musical de sua escolha (canta uma música que gosta, traz uma música para todos escutarem, realiza uma performance como percussão corporal por exemplo, entre outras) e ensina para a turma.
2)Monta o seu projeto bimestral buscando temas que serão trabalhados com a turma pela professora regular da sala. No decorrer das aulas ela procura retirar elementos que havia elaborado para preencher com sugestões e ideias dos alunos.
                Essas práticas que partem dos conhecimentos espontâneos/cotidianos, como os denomina Vygotsky, estão relacionadas a áreas de interesse e necessidades cotidianas das crianças, o que atua de forma a impulsionar e promover a aprendizagem. Assim, esta bagagem proveniente dos próprios alunos torna-se um material que possibilita a ponte com os novos conteúdos e conhecimentos a serem transmitidos para e construídos com as crianças, ou seja, o aprendizado formal.
                Este processo - que auxilia na pesquisa das preferências musicais do aluno, o que ele é capaz de executar ou não, o que ele pensa sobre música, enfim, conhecê-lo - permite que o professor atue na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) da criança facilitando o desenvolvimento de seus potenciais. Afirmam Benedetti e Kerr:                                                              

“Cabe ao professor reconhecer as características da ZDP de cada aluno e conhecê-las inclui conhecer seus gostos e preferências musicais, seus hábitos de escuta, seu universo musical cotidiano de referência, seu repertório, a maneira como esse aluno se relaciona com a música e os sentidos que as práticas musicais apresentam em sua vida. Essa primeira investigação revelará ao professor quais conceitos musicais o aluno possui, que noções dos fenômenos sonoros e musicais traz consigo e quais precisa adquirir, ampliar ou transformar”.
                                                                          
                Um aspecto base da psicologia Sócio-histórica de Vygotsky que também pode ser observado é o contexto social como alavanca propulsora da aprendizagem. As práticas coletivas eram extremamente valorizadas facilitando o entendimento e apreensão do conteúdo. Além disso, é fundamental para um músico o saber tocar em grupo, o que é extremamente diferente de tocar sozinho, ainda que a mesma coisa esteja sendo tocada.
                 Um fato que chamou minha atenção e está também relacionado a este aspecto era o ensino de flauta doce. Quando a professora notava algumas crianças que não estavam acompanhando a turma na execução de músicas neste instrumento, ela pedia a crianças que já estavam tocando com facilidade que ajudassem um amigo com dificuldades. Esta interação é muito valorizada por Vygotsky pois, dessa forma, os indivíduos interatuam das ZDP’s dos outros e a assim aqueles com mais dificuldades podem elaborar o que não conseguiam sozinhos, interiorizando o conteúdo, e aqueles que ajudam podem desenvolver novos conceitos, reestruturar suas concepções, sistematizando-as e partilhando-as.
                Em relação à atividade que realizamos, ficou clara a necessidade de conhecer a ZDP dos alunos e o quanto ela pode influenciar na motivação dos mesmos. Por não sabermos os conhecimentos que as crianças apresentavam na execução de células rítmicas, elaboramos algo bem simples para que elas tocassem nos tambores e sinos. Pude notar que as células foram muito simples para o grau de conhecimento que elas apresentavam e logo aquilo se tornou desinteressante. Na brincadeira do regente, por outro lado, partimos de um conceito já conhecido por elas e colocamos novos elementos desafiadores, o que aumentou o interesse e motivação para a atividade consideravelmente.
                Assim, fica claro que, quando os conteúdos trabalhados estão aquém da ZDP das crianças, a atividade geralmente torna-se desinteressante devido à falta de estímulos. Em contrapartida, se os conteúdos estiverem além da ZDP da criança, a incompreensão gerada também atua desestimulando o processo de aprendizagem. O ideal é que os conteúdos e a forma de apresentação dos mesmos estejam na ZDP do aluno, de forma que ele possa entender, estabelecer um vínculo com a sua realidade e seja, ao mesmo tempo, desafiador, incentivando-o a compreender e interiorizar os novos conhecimentos.

Referências
BENEDETTI, Kátia S. KERR, Dorotea M. A psicopedagogia de Vygotsky e a educação musical: uma aproximação.
CORREIA,Mônica F.B., LIMA,Anna P.B., ARAÚJO, Claudia R. de. As contribuições da psicologia cognitiva e a atuação do psicólogo no contexto escolar.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.